mãos ao alto



e quando a madrugada chega e com ela ele vem junto
ela sente tremer as mãos, os pés ficam frios,
a boca se abre, mas nada pronuncia, ela quer dizer
que venha, que chegue, que arrebente aquelas ondas por cima de sua praia...

mas ela nada diz, seus lábios balbuciam, mas nenhum som sai...
e ele lhe rouba a voz.

ela quer chorar, de felicidade de êxtase, de loucura,
mas nenhuma lágrima consegue sair, seus olhos secam...
ela chega a se ouvir gritando dentro da sua própria cabeça
de vontade de explodir num grito, de surto, de dor, de loucura...

mas nada chora, seus olhos piscam ardendo apertados, mas nenhum líquido escapa...
e ele lhe rouba as lágrimas.

ela sente então vontade de dormir, depois de todo aquele furor,
que ele mesmo causara, de todas aquelas danças e distorções de fantasia.
ela sente vontade de desmaiar naquele peito, de deixar a calma acabar com tudo aquilo.
ela pensa que o sono vai chegar, fechar sua boca, molhar seus olhos e levá-la embora...

mas o sono não vem, seu cérebro cansa, seu corpo implora, sua alma chora, mas,
ele lhe rouba o sono.

esse ladrão maldito, tão ousado, e ao mesmo tempo tão bonito
tem a audácia de lhe tirar a paz, de lhe tirar a vida, vai embora com sua arma
e como se não bastasse, a última gota de uma pistoleira que nela habitava,
se vai sem olhar pra trás e a abandona, exausta, para uma jornada solitária...

mas a derrota não vem, seu coração se despedaça, seu corpo se inflama, sua alma se dilui, mas
ele lhe rouba a inocência.

e isso ele preferia ter deixado onde encontrou.

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