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Mostrando postagens de dezembro, 2012

De Mel

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E é claro que ela tinha que ser assim, tinha que ser lua cheia, lua selvagem, lua que "ploc", explode, lua de verão, lua de calor, lua de dormir com as janelas abertas, lua de acordar tarde, de não ter que trabalhar, lua de férias... ela dura mais que o sol... demora a ir embora, é a luz da gente agora. Lua de sentir o cheiro da chuva das 5 na janela. Lua de café com leite na bandeja, com torrada, com beijinhos, com carinho, com tremelique. Lua breguinha, sabor Gal Costa de ombros nus . Mas por que de MEL? Essa lua é dourada, é transparente.  Era só olhar, mas claro, foi ele que me mostrou. O mel é como ela, doce e lento. Tem esse gosto de beijinho molhado de açúcar, tem essa textura de grude, de ficar junto. Essa lua se chama lua de mel. E o mel é sagrado, é feito pela Mãe Natureza, e o mel é profano em muitas imaginações afora... nós moramos sob o mesmo teto há 5 anos, mas agora... "Eu to morando num pedaço do céu, com

Palimpsesto

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Quando tudo começou eu não entendia direito as palavras. Tampouco as angústias nacionais ou mundiais. Você falava do globo, do humano, da natureza, do belo, do mau, do preço, do corrupto, da relatividade, do pouco e do muito. Você falava de coisas que eu nunca ouvi falar e eu sentia pela primeira vez a paz de quem escuta... sem falar tanto. Ah, a paz... você me mostrou a paz. Como é bom te fazer p erguntas e ficar em silêncio te escutando. Eu nunca tinha pensado as coisas pelas perspectivas que você explorava. Foi como olhar a vida de um ângulo X toda uma vida... Foi você vir e eu voar, e ver a vida de 50 ângulos diferentes além do meu. E assim é o meu HOJE, além das viagens por tantas figuras, efeitos, materiais, texturas, perspectivas, inclusive a sua. Seu encantamento com os limites do real x fictício, seja na animação, seja na cabeça de um artista só, de um movimento inteiro, de artistas que perderam a sanidade... o seu questionamento sobre a sanidade, "quem avalia?"..

Adélia Prado

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"Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva."

Arnaldo Antunes

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Eu sei que eu ia te fazer feliz Dos pés até a ponta do nariz Da beira da orelha ao fim do mundo Sugando o sangue de cada segundo

Na galeria

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Se numa galeria ficasse em exposição toda a minha vida, fotos suas seriam penduradas em várias paredes, partes do seu corpo seriam algumas das instalações mais importantes, e numa sala climatizada separada, com uma música eterna estaria o seu coração, dentro de um cubo de vidro.
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R.I.P. Niemeyer

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"Céu de Brasília Traço do arquiteto Gosto tanto dela assim" Traço esse que me deu nada mais, nada menos,  que as raízes mais fortes.  Obrigada, arquiteto.  Não troco sua criação por nenhum outro lugar para chamar de casa.  Agora reconhecerei seus traços nas nuvens. =)

As três lágrimas

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"Vou no banheiro." "Tá." Maria sentiu as 3 lágrimas descerem assim que João fechou a porta atrás dele, a lágrima pesada que desceu dos olhos e escorreu até o travesseiro, a lágrima que desceu da testa e parou ali mesmo, na própria testa, e a lágrima que desceu entre as pernas esquentando tudo. Ela só conseguia ver duas coisas. O clarão que vinha da varanda, deixando o quarto todo branco muito mais branco... e os quadros. Existe aquela cena cliché de livro de romance de que a mulher não gosta de ser deixada sozinha depois do sexo. Ela concluiu:  MENTIRA . Ela adorava ficar sozinha, e naquele lugar, ainda mais, ela sentindo espasmos involuntários de cada músculo, esfriando a temperatura de seu corpo com a brisa que entrava pela varanda, ouvindo os pássaros lá fora e ainda... ela podia então entrar nos quadros. Os quadros do pintor dela. O pintor. O PINTOR. Ela olhava e muitas vezes não entendia. As pessoas, inclusive ele, achavam que ela não entendia

{Domestiquée}

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A vida antes espalhada nas ruas, nos bares, nos copos grudentos e vazios hoje mora em lugar seguro, em coração constante e cabeça sã. A fera da selvageria, podou suas presas e respirou fundo sentindo seu couro subir e descer, sentou-se e decidiu que era hora de amansar. Hoje, acordo anos depois e percebo que a vida continua espalhada, mas dessa vez em guardanapos, papéis jogados, arrancados de caderno,  orelhas de livro, agendas velhas, ou textos virtuais. A vida se espalhou tão lentamente, que pensei que seria muito fácil observá-la... ou recolher tudo, juntar tudo numa só gaveta e decidir o que faço com ela. Ou toco fogo, ou taco no lixo, ou guardo e esqueço, só para lembrar depois.