morar a dois


Eu sempre imaginei desde pequenininha essa cena.
Eu, crescida, vivendo numa casa com o amor da minha vida.
Eu fui criada para não imaginar muito casamento, com vestido,
igreja, buffet, essas coisas, porque... meus pais eram meio hippies.
E além de tudo, meu pai é inglês e desde pequena ele deixou claro que acha
tudo isso de casamento uma breguice só.
Eu pensava com uns 7 anos "foda-se, minha Barbie casou, eu caso"
mas depois o tempo foi passando e eu fui percebendo que o meu
dia de sonho, de princesa, minha vida ideal era sempre a mesma cena
no meu imaginário de pessoa romantiquinha que eu sou:
EU, ADULTA, JOGANDO CABELÃO,
PONDO A BOLSA POR CIMA DO
OMBRO,
PEGANDO COM MINHAS UNHAS IMPECÁVEIS UM MOLHO DE
CHAVES BEM SONORO
E DEIXANDO UM BILHETE PRO MEU AMOR,
saindo e fechando a porta toda concentrada e arrumada para ir trabalhar. 
Isso deve parecer uma loucura pra todo mundo,
mas essa idealização sempre foi a minha top.
Uma vez eu pensei em casamento porque uma ex-sogra minha era louca 
por casamentos,
achava lindo e me deu de presente uma revista "noivas".
Eu, que sou facilmente levada pela imaginação através de imagens,
viajei no pensamento e foi muito divertido brincar com isso,
com esse princesismo que eu não tenho até hoje.
Tem coisa que não dá. Casamento de princesa é uma dessas coisas pra mim.
Eu casaria, mas meu casamento seria tããããão 
diferente, tããããão hiponga, tão naturebinha... tão ecumênico.
Mas eu achei uma graça imaginar. Eu também já fui madrinha duas vezes e adorei.
Negócio de madrinha de casamento é uma sensação muito legal,
mas de novo... a minha idealização quando madrinha
não era o momento de entrar na igreja como madrinha,
nem de assinar o livro e nem de ser uma princesa do 
grupo de princesas da noiva.
Para mim, só 2 momentos me piraram.
Foi a escolha do presente mais foda que você pode dar e o momento da benção.
Acho uma delícia gastar o máximo que eu conseguir com um presente que eu
quero que seja muito bem aproveitado em momentos muito especiais,
depositar naquele presente todo o meu amor e a minha vontade e força,
escrever um cartão... inesquecível.
Eu realmente curti esse momento do presente 2 vezes com a mesma intensidade.
E o momento da benção... putz, é difícil não chorar.
Ali estão os melhores amigos.
Os mais próximos, os que acompanharam tudo.
Você olha pra eles e você ta ali.
E todo mundo ta de olhos fechados, mentalizando muita coisa boa. FODA.
Mas de novo... casamento pra mim, o que me dava arrepio gostoso na coluna
era imaginar eu tocando a minha vida, na fase independente financeira,
junto com alguém que por enlouquecer por mim e eu por ele,
topasse enfrentar uma vida juntos.
Parece idiota, mas é exatamente como eu imaginava,
e tem detalhes que são muito melhores.
Quem já morou junto com um amor, sabe. Você ta ali e a pessoa também.
Isso meio que não dá para voltar atrás. Tipo, claro que dá, é só se mudar,
mas a realidade te mostra que você toma mais cuidado
na hora de macular algo numa briga.
E a pessoa que ta com você também toma muito cuidado.
As pessoas regulam muito mais as palavras,
por causa de um medo do outro jogar O SAGRADO no buraco se um dos 
dois usar a palavra errada.
Não existe muito tempo para charminhos, não existe coragem de sair
e passar a noite fora. Não, cara, as pessoas ficam mais cuidadosas,
e por mais raiva que você tenha, ou que a outra pessoa tenha,
tem que resolver o problema. Não tem jeito.
É tão legal essa parada... A gente começou morando numa kit, que é onde moramos até
hoje e ainda vamos ficar aqui uns meses, já vamos mudar pra um lance maior ano que vem.
Nunca me imaginei saindo daqui porque ainda sou totalmente pirada com essa casa. 
A decoração, os ambientes que a gente imaginou juntos, 
o porquê da nossa cama japonesa,
os abajures que o Fred fez com bambu que ele mesmo foi
escolher e cortar e modelar, e passar verniz e desenhar... a mesa da sala.
As várias vezes que a gente foi na tokstok e se sentou nos futons do ambiente japonês
simulando um jantar a 2, 
os criados-mudos que ele sempre quis e até hoje a gente não comprou...
a cadeira de cineasta que a gente decidiu junto não ter.
O mural de fotos, o novo mural de fotos... a nossa discussão
na qual descobrimos que adoramos não ter porta-retratos.
Os quadros. O cesto de roupa suja.
As mil descobertas do Fred em elétricas, lojas de construção, de decoração... as prateleiras.
Os armários. As decisões. As lâmpadas, os lustres, o chuveiro, o vaso sanitário, o vazamento, 
as manchas, os ajustes, os consertos, a assistência técnica. 
As minhas invenções que às vezes não eram práticas,
mas ele cedeu e com muuuuuuuuuita paciência. 
A ponto de no final eu pensar "eu teria me mandado praquele lugar, que chatice a minha".
Os aromas, os incensos, as velas, as essências, os pot pourris, a adega, o novo computador,
a nossa vibe de vinho tinto, depois a nossa mania de vinho branco 15º...
a época da xiboquinha para receber os amigos,
as festas temáticas que eu inventei e ele morrendo de rir me ajudava nos detalhes. 
Os momentos em cima da cama com revistas e lugares,
planejando poupanças e viagens.
As listas de supermercado. Os fondues, as doenças, as dores,
um ajudando o outro, o tocar o foda-se
para a night, cada dia era um fazendo isso.
O parque da cidade atrás do condomínio, o nosso jardim.
As mil aventuras em banco.
O concurso do Fred, o meu aumento.
Os fins de semana.
A minha sogra me trazendo sopinha em casa quando eu to doente.
A minha mãe estourando champagnes quando
o Fred formou, quando o Fred passou e foi chamado, e nos aniversários do Fred. 
O meu pai me olhando daquele jeito de quem respeita o outro,
aceitando que a filha cresceu, podendo contar comigo como adulta.
O pai do Fred... sempre me perguntando se a gente ta precisando de alguma coisa,
sempre me examinando em qualquer problema de saúde que eu tivesse.
Sempre sorrindo, sempre ali.
As mil viagens pra casa da Tia Suely, tia do Fred, lá no RJ,
os filmes com o Helder, as canções com o Luidinho, a
s mil fotos que eu levei pra Recife para apresentar o Fred,
a mudança do meu vo pra Brasília,
a vida de casado... a gente ta sempre aqui.
Buenos Aires... nossa primeira viagem internacional...
O cuidado. A paz. O amor.
As declarações que mais emocionam não são as que eu imaginava.
Eu te amo ficou em segundo plano depois de tudo o que eu já ouvi sobre
os nossos bebês =))))))).
Eu sou sua ficou em segundo plano depois de outras coisas.
Não é que a gente não diga "eu te amo", é que isso tem um significado muito além do que eu pensava.
Eu sempre quis alguém ali pra TUDO.
Um alicerce, uma fortaleza. Um cúmplice, um time.
Eu nunca tinha tido do jeito que eu queria. HOJE EU TENHO.
E é tão mais massa do que o que
eu imaginei. É tão enriquecedor, dá tanta vontade de ser melhor a cada dia. 
You make me wanna be a better girl.
E mesmo que algum dia eu não tenha mais isso, vou ter saído no lucro.
Aprendizado que fica pro resto da vida, conviver é uma arte, um dom... e,
às vezes, uma filosofia de vida.

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