música

(a linda Montréal em seu vestido de outono)

Morar em Montréal foi uma experiência inesquecível, pude enterrar lá o que eu queria que morresse, e pude fazer nascer várias coisas em mim que eu nem sabia que seriam possíveis, um dos nascimentos foi uma nova experiência com música. Eu andava pelas ruas e de vez em quando prestava atenção nas músicas que tocavam. O "de vez em quando" me surpreendeu, pois em Brasília, eu prestava atenção às músicas em geral que cruzavam o meu caminho, fosse no mercado, fosse na casa dos meus pais, fosse na esquina, na casa de alguém, no vizinho.
Em Montréal ensurdeci.

(La bottine souriante)

ENSURDECI PARA TUDO QUE EU JÁ CONHECIA. Rock, pop, reggae, clássica erudita, as bossas dos cafés por onde eu passeava, os sambas, em Montréal MPB é coisa de gente chique. Não sei dizer ao certo por que isso aconteceu, mas me peguei completamente embebida de música quando ouvia a música típica folclórica do Québec, como "La volée d'Castors" e a maravilhosa "La bottine souriante". Fui atrás dos cds, dos músicos, algo mexia muito fundo em minha alma quando eu ouvia essas músicas, e eu simplesmente não sabia explicar o porquê de me sentir tão atraída. Alguns teóricos da música erudita, que tanto estudei nos 11 anos de piano clássico, diriam que ISSO É A VERDADEIRA MÚSICA - aquela que toca o outro sem explicação.

(La volée d'castors)

Porém, nada disso importa, era o contexto e pronto. O FOCO AQUI É A MINHA RELAÇÃO COM A MÚSICA. Ouvi instrumentos que nunca tinha nem visto, assisti danças que não me constituiam, mas entravam em mim pelas veias, pela pele, sem autorização alguma... me entreguei por completo. Comprei minha primeira gaita. 14 dólares canadenses. Assoprei, assoprei... inventei, fiquei com vergonha, desafinei, e mais do que tudo ERREI SEMPRE.



Quando voltei pro Brasil, em 2007, eu fui a um show no Clube do Choro e descobri que naquele barracão branco tinha aula de música, de vários instrumentos. Em 2008 eu pensei "que pena, eu devia ter estudado gaita ao invés de piano"... Em 2009 eu tentei me matricular, mas descobri que existia apenas UM DIA POSSÍVEL DE MATRÍCULA - e ele já tinha passado. Em 2010 eu tentei nos 2 semestres pegar o dia de matrícula certo, mas nas 2 chances, eu estava viajando.



Eu não sou uma pessoa teimosa. Não sou mesmo. Para mim "não" é "não", mas dessa vez eu não desisti de me matricular. Esse ano descobri que o dia de matrícula era 9 de fevereiro - EXATAMENTE NO HORÁRIO QUE EU DOU AULA.


(A escola Raphael Rabello, do Clube do Choro)

Se o dia de matrícula era já essa loucura, até parece que o horário da aula seria compatível com o meu trabalho. Eu teimei. Fui na escola, conversei com a secretária, expliquei que eu estaria trabalhando e ela disse que eu poderia deixar todos os meus documentos copiados e a ficha de inscrição, juntamente com o valor da matrícula e da mensalidade com algum representante, PARA PARTICIPAR DO SORTEIO. Um anjo chamado Naiara era a única pessoa disponível no dia. Aconteceu de tudo no dia, problema no carro, problema no trabalho, falta de comunicação com uma amiga que queria se matricular também. Naiara me deu sorte, foi meu pé de coelho.



Eu consegui a vaga e estou estudando lá... na primeira aula eu já fiquei encantada, meus colegas muito nada a ver um com o outro, meu professor super gente boa... a escola tinha acabado de ganhar um prédio novo... minha sala pintadinha, cadeiras novas, tudo tão limpo e bonito. Em março e abril desenvolvi o hábito de assistir os shows às quartas, porque é de graça para mim... NA ÚLTIMA QUARTA, eu tive o momento musical mais precioso desse ano. Enquanto eu esperava o Fred para pegar os ingressos e entrar no show, eu sento sozinha no chão da escola lá fora e começo a treinar. Eis que 2 colegas da minha aula de teoria, se sentam também e tocam comigo a música que eu estava treinando... em 2 violões diferentes. Voltei a fechar os olhos... e me deixei levar pela MÚSICA.

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