o bicho-planta voou



Agora estou me sentindo muito diferente de vários
anos atrás...  me sinto quase como me sentia 
em 2003, no meu segundo ano de UnB. Um conforto de 
habitar uma alma de estudante, descobrindo muitas coisas
ao mesmo tempo, mergulhando intensamente em tantas
áreas... estou encantada com meus estudos de música, e 
talvez mais ainda com minha imersão no mundo da crítica 
literária... conhecer Terry Eagleton, Erich Auerbach, 
Alfredo Bosi, Antônio Cândido... ter acesso a tantos vieses
de raciocínio e visões múltiplas de literaturas tão diversas pelo mundo
realmente me encanta e me faz planar por cima de verdes campos
que vejo melhor agora, sobrevoando-os...

Quando estudei literatura nos meus cursos de Letras (inglês 
e francês) eu realmente era uma desbravadora, com um
facão na mão, cortando capim e galho e folha para conseguir
me embrenhar dentro daquela natureza que é a da literatura, 
sentar lá dentro, e esperar os besouros subirem em mim, e as
cobras enroscarem, os espinhos me perfurarem até eu
criar raízes, sugar aquela água e ficar lá presa na terra até que
finalmente eu conseguiria fazer uma "fotossíntese"... em
compreensão de literatura isso seria conseguir absorver o 
texto para produzir impressão, raciocínio, tudo isso com 
muito sentimento, com propriedade e posse do texto, da 
alma literária... dura vida de leitor e aprendiz de literatura.

Agora estudando crítica e teoria literária mais a fundo sinto
que aquela "bicho-planta" que eu era começou a ter muita
força nas asas, tanta força que o bater das asas foi meio 
involuntário, asas enormes precisam bater.
Bati com força meus planadores de mulher-condor... que
foi aquilo? Que maluquice... meus globos oculares deram um
360º bonitos... quando fui ver, aqueles textos dos quais eu
fazia parte, que me constituíram como leitora e eu era meio
autor, meio personagem junto com eles... ficaram lá embaixo.
Lindos! Como eram maiores do que eu imaginava! Cada
Clarice, cada Poe, cada Rubem Fonseca, Shakespeare, 
Bulgákov, Saki, Cora, Ionesco, Roth, Wilde, Drummond...
são tão gigantescos vistos por fora... eu nunca podia imaginar.

Já se foi o tempo em que eu pensava que a crítica reduzia o 
texto... às vezes a crítica multiplica... solta nossas raízes teimosas
e apegadas... e nos faz voar.

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