porque A sou

Da força que é ser eu, dentro de mim:

MULHER eu me sinto simplesmente o tempo todo.
Apesar de pensar e sentir que governo minha vida 
como um homem o faz, livre de qualquer chicote,
trabalho com o que quero, estudo o que me 
interessa, corro contra o que eu tiver vontade
e destruo, e varro, e limpo, e reformo, construo
o meu, o que me importa, compro, enfeito, "deixa
que eu faço"... apesar de tudo isso... 
nunca consigo me esquecer do quanto eu me sinto mulher.


Selvageria

De tudo o que eu já li sobre essas coisas da mulher
selvagem que minha bisavó tanto quis que eu aprendesse,
de seguir instintos, de agir por sede de vida, de correr
do que faz mal e de quem faz mal... sempre
me senti muito, mas muito selvagem... 
e essa, sinto muito, e me sinto muito bem, sou eu, Nina:


Hipocrisia? Não, brigada.

Moro e durmo com quem eu tenho vontade e antes disso
quando não sabia com quem eu gostava de dormir
eu dormia com quem eu bem entendesse, nunca
me maldisse por isso, que ingenuidade bestificada 
pensar mal de minha liberdade e de minhas decisões.


 Admiração de mulher e corpo

Mulheres donas de seus próprios corpos sempre
me embasbacaram, mulheres que fizessem com 
seu destino e com sua casa o que bem entendessem,
mulheres donas de seus narizes... minhas musas...
são tantas, são tantas... em minha própria família.



O fantástico clã dos Luna:

Pode parecer inacreditável, mas das 2 tias-avós que
me criaram junto com minha mãe no time das mulheres
tenho uma tia de juventude de beleza de estrela de cinema.
Minha tia das artes, da literatura, da música, do cinema 
de revolução, das danças clássicas e contemporâneas, 
essa minha tia nunca se casou. PORQUE NÃO QUIS.
Ela teve sim amores com os quais teria dado certo, mas 
ela me explica hoje que naquela época, para se casar e 
ter filhos, o que era o esperado, ela teria tido que abdicar
de várias atividades e estudos que ela não queria, e que
doeu bastante ter dito não aos tantos amores tão jovens,
tão "corretos" e leais para seguir uma vida de solteira.
Ela sempre sorri quando pensa no resultado e diz que 
valeu muito a pena, que ela se dedica com afinco à família
que ela ama, sem se sobrecarregar com a responsabilidade
de quem pariu, de quem tem dono. Interessante, no mínimo.
Fora isso minha tia era do sindicato dos professores e em
época de ditadura militar, ela chegou a ser presa. O que ela 
tem a dizer sobre isso? Valeu a pena pelos ideais e ainda bem 
que ela não teve filhos. Só isso? Aham.

Primeira mulher livre

A segunda tia-avó casou-se depois de se formar, o que era um
completo absurdo na época, mas não teve filhos, o que ela diz
ter sido uma benção, pois ela tem hoje que cuidar de um marido
doente e teve que criar as 2 filhas do meu avô anyway. 
Essa tia resolveu se formar em matemática e também
escolheu a profissão de professora para poder estar sempre
bem perto dos cientistas, dos livros, dos laboratórios do 
conhecimento, com a desculpa de ter que passar tudo para os alunos,
já que ela era do magistério... esperta? Ninguém tem noção
da inteligência real dessa minha tia. É simplesmente inspiradora!


Mama, incomparável Mama

Minha mãe, nossa, é tanta coisa para falar, vamos começar 
dizendo que ela começou a trabalhar com 16 anos para poder
estudar inglês de graça com bolsa da escola, graças ao 
trabalho dela de secretária da empresa. Em apenas 2 anos ela 
se formou e fez exames de Cambridge e era professora... conheceu
meu pai com 17 e aos 18 ela passou para o curso de História, mas
largou tudo para casar com um inglês do dente quebrado
para ir morar na Inglaterra e fazer família por lá.
Fora ser a mulher mais profunda e mais cheia de facetas
apaixonantes que eu conheço, ela simplesmente me trouxe desde
muito pequena a impressão de que eu era criada por uma
mulher selvagem. Sempre me senti uma verdadeira CRIA.
Ela sempre me protegendo, sempre me dando carinho,
sempre com as orelhas em pé e o olhar atento.
Não houve uma queda em minha vida que ela não tivesse
previsto, ela simplesmente tinha que ter noção do acontecimento,
não necessariamente impedi-lo. Minha mãe tem olhos
de galáxia, força de garras de águia naqueles dedinhos tão
pequenos... e uma energia forte, talvez a mais forte do mundo.


Sorte advinda das galáxias

Cresci com todas as condições financeiras e educacionais que se
pode desejar para um filho em seu desenvolvimento, mas 
nada disso se compara ao senso de liberdade que me foi
incutido desde que eu era criança, tanto pela parte feminina
quanto pela parte masculina da minha família, eu era teoricamente,
a última das moicanas, a restante, a parte mais frágil da família.
Eles se juntaram e decidiram que aquilo tinha que dar certo.
Ou eu crescia me sentindo uma mulher livre, ou eles não iam poder
descansar em paz.


Preocupações familiares

Ano após ano eu ouvi e ainda ouço que não preciso me casar, 
nem ter filhos se eu não quiser, nem nada.
Na minha família me sinto Nina, me sinto mulher, me sinto
id, ego, superego, todos muito em construção, sem pressão
para finalizar nenhum projeto pessoal de alguém ou coisa do tipo.
Sempre os meus projetos, os meus e somente meus,
podendo ser aplicados em conjunto com os de um outro alguém,
mas nunca deixando de serem os MEUS PROJETOS PESSOAIS.





Dos ricos arquétipos greco-romanos...

Lendo os arquétipos femininos gregos e suas características 
nos tipos sociais femininos contemporâneos, percebo que
sou muito mais Artemis do que sou Héstia. 
Prefiro inconscientemente as minhas amigas Atenas.
Minha vida é uma grande festa para Perséfone, e o tipo de
amiga Juno, simplesmente não existe na minha vida.


Casa e templo

Minha casa, agora vejo, será sempre o templo de Afrodite,
tendo alguma relevância o sortudo Zeus que dormirá em meu leito.
Sortuda de mim também, se algum dia eu voltar a dormir
em minha própria compania.
Só me desculpem os machos, e as fêmeas que só respeitam
machos... minha casa não recebe DONZELA.
O arquétipo da donzela fere meu respeito, fere minha
vontade, fere minha vida. Não o quero e não o terei.
Já bastam as minhas outras mulheres que idolatro terem
tido que passar por isso, responder a esse arquétipo social babaca.


E eu serei sempre livre para ser a Nina que eu bem entender.
Amém, minha filha! Amém.

Comentários

Patricia disse…
Linda Nina. Mulher. Admirável.

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