Aventura teórica



E foi então que no meio da minha fuga, 
todo aquele frio no estômago devido à perseguição,
eu corria com muito mais do que todo o meu fôlego.
Eu, meu caderno de teoria e crítica literária e eu.
Não pude mais correr, havia um beco sem saída no
meu caminho. Vi um braço ossudo e branco, quase sem pelos
se estender por entre uma fresta, me oferecendo uma mão.
Segurei seu pulso e ele segurou o meu. Fui puxada com
brutalidade. Então, caminho por um corredor escuro, que me
faz ver como pode vir a ser a vida de uma pessoa cega.
Porém, completamente confusa em relação aos sons.
Escuto a KGB correndo e gritando, mas não sei por onde eles
estão vindo me buscar. Sinto conforto, calor, e sento perto
de uma pequeníssima fogueirinha no canto do quarto. 
O homem que me ofereceu ajuda é um velho narigudo de 
óculos redondinho. Graças ao fogo, reconheço: é György Lukács!!!
Ele me devolve meu caderno e meu lápis que eu deixara 
cair pelo caminho e pega seus próprios lápis e cadernos... ele me 
diz coisas que não entendo, afinal, eu não falo nenhuma das
línguas urálicas. Não importa, ele continua falando como se
não importasse mesmo eu não entender. Pela intonação e gestual 
entendo que ele não está nem um pouco feliz e que também está sendo 
perseguido. Ele abre o caderninho na primeira página. Está
escrito "Narrar ou descrever" em russo, talvez 
e em inglês logo abaixo ... em seguida, ele procura a página certa
que está lá pra frente e continua a escrever. E eu fico olhando 
para ele, tentando observar com detalhe para não me esquecer
depois, estou hipnotizada. Ele me olha de rabo de olho e fica bravo:
"Írja be a szöveget!!!" e sacode o lápis. Entendi, era pra eu
escrever também porque não sabíamos quanto tempo ficaríamos
ali naquele porão imundo e com luz. Não havia tempo a perder.
"Sim, senhor!", eu disse, e decidi NARRAR..

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