Prosa ou Poesia?



Tem horas que eu sou prosa, mas tem horas que eu sou poesia. 
Mas isso não vai e vem, de um para outro, com muita frequência. 
São verdadeiras épocas da vida. 

A época de ser toda prosa é o tempo de viver fatos, um fato atrás do outro. 
Luz, câmera e ação andam sempre juntos com a minha vida de narrativa. 
É a época do tempo. O tempo caminha muito rápido e é cheio idas e vindas do
passado para o futuro possível, e a volta para o presente. É a hora de
se viver lugares, múltiplos, muitas vezes dentro do mesmo espaço, é possível 
encontrar mais de mil lugares em um mesmo parque quando a vontade
da vida é narrar. Há também os personagens, muitos e muitos seres,
às vezes eles são reais, às vezes eu não vou lembrar nada sobre eles. E eles
agem, eles vivem a ação. Não há tempo para descanso, eu me transformo
em uma máquina... uma máquina de escrever que não cessa, que não
para com o seu tac-tac frenético, e saem livros e mais livros de dentro 
de mim. Os causos e suas causas, seus modos, suas consequências...
Minha vida de repente se transforma em piada, peça teatral, drama,
crônica, muitas vezes novela, ou um conto rápido e bruto... já cheguei 
até a viver fábulas. Não importa, o destino me joga às vezes no abismo da
narrativa. A única coisa que posso fazer é viver, e depois de se viver muita
prosa, você olha as cicatrizes que a poesia te deixou na alma e se promete
nunca mais deixar de narrar a sua própria história, contemporânea e independente.

Mas existem outras épocas que intercalam com essas histórias loucas... e 
vem intensas e profundas, pausar minha vida por longos períodos onde tudo
o que se faz é sinestesia, tudo o que se faz é sentir, é viajar pelos versos dos
sonhos, dos planos, do conforto. É visitar diferentes configurações de métrica,
ajustando aqui, ajustando ali, tudo a dois, e a gente sente aromas mais fortes,
e vê cores mais nítidas, e sente pulsar as artérias cheias de um sangue vivo. 
Vezes acho elegantes as paragoges do amor e as únicas síncopes que sofro 
são pura poesia, claras como um copo d'água. O ritmo muda, fica tudo em 
câmera lenta, e um ano pode parecer uma vida ao lado da gente. A cadência,
quase que sem querer se torna uma dança, uma dança calma, com movimentos
belos, vezes alegres, vezes tristes, mas com a certeza de se estar dançando.
Tudo o que se vive aqui, tem potencial para virar belas artes, o feio, o belo, o
bom, o ruim, tudo é poesia, tudo é poema. E quando se vive poema, não se
quer mais pular do precipício nem narrar nada, e se o poema for muito muito
bom, chega-se a rezar baixinho para te deixarem ali onde se está. 



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