To lecture or not to lecture?


Essa semana me apresentei para a graduação, mais 
precisamente para a turma da disciplina (que eu adoro)
de Literatura Americana 3 (e convidados) na universidade,
a convite de uma professora do departamento de literatura,
e para me preparar e não ficar com tanto frio na barriga
eu tomei algumas precauções com antecedência. 


Como o tema da palestra não era o tema dos meus estudos
ou da minha dissertação, mas sim, uma pequena parte bem
básica sobre Detective Fiction Theory, tive de fazer um 
apanhado de textos, me preparar, escolher teóricos há muito
lidos e esquecidos, empoeirados e guardados, dentro de um 
número absurdo de possibilidades e desenhar um programa 
sobre o que eu ia apresentar a esses alunos, que estudam mais
especificamente literatura pop do século XX na América do Norte.
Algumas decisões que tomei antecipadamente tiveram mais a 
ver com a organização do tempo e do conteúdo porque de
resto, como sou professora já há quase 10 anos, não tinha
muito material que pudesse me ajudar, 
só as forças sobrenaturais mesmo na causa:



1. Definição de propósito e objetivo
    Quando fui convidada para dar essa palestra já delimitaram
o propósito da minha apresentação, isto é, o porquê de eu estar
ali, o porquê de eu ter sido escolhida e quem era o meu público.
   Meu objetivo geral era falar sobre o tema que me foi determinado
com clareza, escolhendo o panorama histórico e o tipológico, para
mostrar aos ouvintes que a classificação depende de como se faz
um estudo. E meu objetivo pessoal era fazer com que os meus ouvintes
saíssem de lá sabendo quem foram os teóricos que iria mencionar, quais
as divergências de opinião entre eles, quebrar estereótipos clichés que
são veiculados a respeito do tema, e finalmente, dar a chance de os
alunos fazerem um exercício prático para comprovarem a explicação.


2. Escolha de conteúdo e estrutura
     Escolhi por fazer uma palestra expositiva, isto é, eu falaria sobre o
primeiro teórico, Todorov, brevemente, e em seguida explanaria cada 
ponto importante na teoria de seu texto Typologie du Roman Policier.
Antes disso, para deixar os alunos com controle e participação sobre o
tema, pedi para que eles definissem em 3 minutos em grupos de 3 pessoas
quais as características essenciais em um bom enredo de  Detective Fiction.
As respostas foram surpreendentemente variadas e enriqueceram muito
as próximas etapas da palestra. Depois de explicar os 3 tipos básicos de
Todorov, trabalhamos com o texto de S. S. Van Dine, os alunos comentando
número a número as Twenty Rules for Writing Detective Stories. Nessa 
parte, os alunos se divertiram muito, comentando cada enredo lido e regra
radical, e eu nem se fala, I was having a blast!!! A professora que me 
convidou me avisou que tinha um aluno fascinado por Poe naquela disciplina,
por causa dele, resolvi levar o texto do meu amado Jorge Luis Borges, 
"El cuento policial", e por sorte o aluno fã de Poe estava presente e pude
ver a alegria em seus olhos ao ouvir as idéias de Borges sobre o novo tipo
de leitor e de texto criado por Poe. Decidi que no final, eu faria exercícios 
com eles, para ver se eu conseguira transmitir algo ali naquela exposição.
Em um exercício os alunos tiveram que julgar capas coloridas de livros, sem
título e sem autor, editadas pelo meu amado e fiel escudeiro Fred. Pude ver
os alunos se transformando em verdadeiros detetives nesse exercício, realmente
circulando pistas nas figuras das capas, como sapatilhas de bailarinas e 
modernas ambulâncias para argumentar sobre a sua classificação final.
E depois o último exercício se deu com 3 cortes de diálogos, um de cada 
livro, onde os alunos tinham que avaliar pelo vocabulário, comportamento
dos personagens, atitudes e sentimentos, os tipos de Todorov, romance policial
de enigma, romance negro ou romance policial de suspense.
Eles todos conseguiram acertar 90% das respostas, ou seja,
tinham conseguido entender tudo o que eu falei previamente.  
No final me fizeram perguntas difíceis, muito interessantes, eu consegui
responder porque por sorte, eu já li muito a respeito do tema e 
tenho referências confiáveis até para passar para eles,
me perguntaram muitas coisas, eu fiquei encantada,
não esperava que eles tivessem tanto interesse no tema. 
Eu respondi todas as perguntas, agradeci muito, pois, aquele
grupo realmente foi uma bênção, só alunos interessados, gentis, amáveis, que 
estavam ali para me ajudar, não para zonear. Foi uma experiência maravilhosa.


3. Material utilizado
Decidi não utilizar nada que eu mesma
não fosse levar para os alunos de casa, nada de muita
sofisticação, data show... eu tinha até feito uma apresentação
de powerpoint, mas preferi levar apenas meu pequenino handout,
os textos copiados e os exercícios em impressão colorida.
Acabou sendo mais do que o suficiente.
Decidi por isso porque fiquei com medo de dar alguma
coisa errada, de o equipamento não funcionar depois das férias,
de não terem reservado direito ou de mandarem o equipamento
para a sala errada, nunca me aconteceu antes, quando
eu precisei me apresentar na graduação, mas... 
é melhor prevenir do que remediar. =)


4. Utilização de espaço físico
Decidi me sentar junto com os alunos num
círculo, como faço nas minhas aulas diárias com
meus alunos na escola, ao invés de me colocar à
frente deles, assim, facilitaria a contribuição deles 
de idéias, o diálogo, as perguntas, os questionamentos.



Normalmente tenho muita dificuldade de ser concisa, 
mas eu li muito antes que em palestras, menos é mais, 
e realmente, deu tempo de fazer absolutamente tudo,
faltando exatos 3 minutos para a professora da disciplina
dispensar os alunos explicando a tarefa que eles
escreveriam sobre o tema abordado naquele dia e  para
quaisquer avisos finais.



Eu nunca vou esquecer desse dia, foi terça-feira.
de quarta para quinta quase não dormi
parindo quase 10 páginas para a disciplina
de quinta de manhã, mas nem me lembro 
disso mais, hoje é sábado e eu ainda estou
saboreando aquela terça-feira, em que conheci
aquela turma, que me proporcionou um
dos melhores momentos na universidade até hoje.

<3


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