Quando li o aviso ontem sobre você ter morrido, Professor Aryon,
meu corpo teve um arrepio forte e eu vi e ouvi TUDO.
Ele era um coração que pulsava em ritmo bom de dançar,
um coração cheio de sangue quente, cheio de fome de registro,
cheio de vontade de marcar na história
o massacre dos esquecidos e suas vozes,
cheio de angústia ao contar um a um
os falantes a menos de cada tribo que sumia.
Cheio de amor e carinho, porém sempre cheio de indignação
sobre como correm os fatos na Universidade...
era uma batida no coração que era alta.
Ela baixou. E baixou. E baixou. E silenciou.
Logo em seguida ouviram-se tambores, em uma cadência incontrolável...
acompanharam as cabaças e os guizos. Veio o pajé, e o chamou.
E ele levantou. Dois dedos de urucum na face direita,
dois dedos de urucum na face esquerda. Soou a flauta.
Uma voz bem forte e masculina gritou em Nheengatu: "Entra, Professor."
E ele deu o primeiro passo à frente.
Criancinhas kaiapós, yanomamis, karajás, guaranis, suyás,
xavantes, guaranis o conduziram pela mão,
entoando a linda melodia tupi:
"Anauê nhandeva, anauê hei, hei, hei!"
E lá se foi ele, sorrindo...
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2014/04/25/interna_cidadesdf,424722/morre-aos-88-anos-professor-da-unb-referencia-em-linguas-indigenas.shtml
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