Minimalizando até o Sol



O excesso me consumiu, ao longo de 10 anos, acumulei objetos de
decoração, manias, gostos, interesses, opiniões, compreensões, estudos,
vontades, sonhos, hábitos, bagunças, caos mental, caos físico e bum!

Quando vi que eu ia explodir resolvi voltar a fazer terapia. A terapia é
uma bênção na minha vida, me dou muito bem com essa faxina, abrir
caixas e sair tirando item por item, do que tava guardado há anos, do
que eu nem sabia que encaixotei, do que a caixa não fechava, das caixas
que apodreceram, das que rasgaram o fundo... é um alívio esvaziar.
A gravidez veio bem no meio desse processo, hoje minha filha tem um
ano e meio e eu ainda estou esvaziando. Hoje a minha vida está muito
bem organizada numa rotina que a minha bebê reconhece como nossa.

Até agora não acredito que consegui realizar alguns dos meus maiores
sonhos para quando tivesse filho: cozinhar sistematicamente uma comida
muito saudável para a introdução alimentar, sucos, mingaus, legumes,
arroz, feijão, frutas, carnes magras, colher temperos na horta para fazer
a comidinha dela é mais uma coisa que faz meu coração se encher de alegria.

Não terceirizar a criação dela antes da hora, amamentar até hoje, ser muito
responsável com tudo o que se refere às coisas dela, o quarto dela é um sonho
e todos que entram nele sentem uma vibe muito gostosinha, sem perguntar,
as visitas acabam me confessando várias coisas sobre o que sentem lá.

A espiritualização com minha bebê, consegui resgatar dentro de mim uma
caixa muito preciosa, cheia de crença e mistérios da fé, e mesmo que ainda
não me sinta preparada para escolher nenhuma igreja como refúgio único,
eu mantenho minhas preces dentro do meu coração, verbalizadas no vocal
sempre que ela deita a cabeça no meu peito para se aninhar e dormir... essa
Nina que tem fé é a criança, que viveu a espiritualização feliz e leve sem
nenhuma racionalização, só na escolha, no instinto. Decidi manter as orações
que eu gostava na infância, que fazia com minha mãe antes de dormir e que
me lembram essa paz que minha mãe me trazia quando eu precisava relaxar
e fechar o dia e não conseguia sozinha...

Estou tentando manter apenas o essencial, aos poucos doando meus preciosos
livros, livros que me vieram, que já cumpriram sua função, aos quais posso
agradecer de todo o coração, e dar adeus. Doar livros é a parte mais difícil, todos
esses anos gostei e me relacionei de forma muito íntima e pessoal com muitos
dos meus livros, e foi um livro que comprei por último que me motivou a deixá-
los ir para que façam outras pessoas felizes. Manter na estante só o que importa
no momento presente e me sentir feliz dando adeus para meus livros é muito
mais dificil do que qualquer um possa imaginar, então, estou feliz que estou
mexendo justamente aí, nessas minhas certezas de identidade, não sou mais só
aquilo que leio. Sou o que eu quiser ser.

Sapatos, ficaram 15 pares. Roupas, apenas duas portinhas e uma prateleira.
Junto com tudo isso que cobria meu corpo que foi embora, foram também 20
quilos desde a gravidez. Cosméticos, reduzi muito, mas ainda preciso revisar.
O quarto da minha filha não tem nenhum excesso, somente o que ela brinca e
o que ela veste agora. E se você tiver outra filha? Vou vestir nela as 5 roupinhas
que guardei da minha primeira e o resto eu vou querer escolher com o estilo da
minha segunda filha, sim, os bebês tem personalidade e posso sentir isso em
filhos meus com muita facilidade e não escolher só o que me agrada os olhos,
mas também o que os deixa confortáveis e felizes com muita mobilidade e
conforto.

Limpar vicia. O meu armário da escola não tem quase nada, só o essencial:
papéis coloridos, tintas, canetinhas, lápis coloridos, palitos de picolé, cola,
tesoura e livros didáticos que uso hoje. Doei meus dicionários e gramáticas.
Digitalizei minhas memórias de trabalho. É tudo um processo. Curativo.

Maquiagem, só o que uso. Cds, só os que ouvimos. Tá cada vez mais fácil.
Falta só a fala. Falar só o que preciso e doar de vez em quando uns silêncios
esclarecedores. Eu consumo o silêncio dos meus amigos como um quitute.
Às vezes eles estão contando uma história e a históra acaba e eles silenciam.
Aquele silêncio é tão forte. Sinto, por vezes, uma vontade de chorar e acabo
preenchendo aquela lacuna com uma pergunta, com um carinho verbal, eu
tenho que acreditar que isso não é preciso. Deixar o silêncio fluir vai mexer
muito comigo, mas desde ir pra terapia, engravidar no meio disso, ter um parto
normal super chocante e me tornar a mãe que acho que meus filhos merecem,
eu to acostumada a mexer comigo. Mexer comigo dá nada não, to peitando a
vida, to encarando de frente. Eu gostava muito do meu ascendente em gêmeos,
mas hoje to fazendo as pazes com meu sol em virgem, ele ta me resgatando,
me organizou e me voltou à rotina, me limpou, me curou as feridas, e filtra o
que fica e o que vai embora. Meu sol em virgem é firme, muito firme, e se
eu errar e ficar triste, ele me tira do poço e me traz pra luz. Obrigada, Sol.


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