Imersa


Aquele momento que só sobrou pedir auxílio à Mãe Terra, para que você
consiga dar conta de você mesma morrendo de novo de pouco em pouco,
para dar lugar à nova Mãe, enterrar dessa vez a mãe de 1 para abrir
espaço, com tapete vermelho pra mãe de 2 entrar e dominar... Mãe Terra,
mãe de todas as mães, me ajuda a morrer, me ajuda a me transformar...
novamente!

Jajá chega o sétimo mês e eu continuo imersa em minha bolha particular...
Nada me tira dessa bolha, é como se fora dela eu arriscasse minha vida.
Eu preciso me proteger, eu preciso me proteger, eu preciso NOS proteger.
E fica mais difícil lidar com o peso na barriga, eu começo a me lembrar da
parte difícil da gestação, e fica difícil lidar com carregar qualquer outro peso
que não seja o meu, seja o peso literal ou metafórico. E fica difícil dormir
super pesado e super tranquila, e o que tava difícil vai virando desafio... 
e eu vou me lembrando, mas é tudo tão lento, tão sabiamente lento que dá
tempo para adaptar, planejar pedidos de socorro suaves e trabalhar o psicológico
para a parte mais difícil e dolorosa: O DELEGAR FUNÇÕES a terceiros e 
ter que admitir que não vou dar conta de tudo, muito menos de me manter 
sentada no trono de control freak da rotina que tenho com minha filha...


nem quero pensar no parto nesse momento, mas já tenho que pensar na fisioterapia
da pelve. Nem quero pensar em outra pessoa buscando minha filha na escola,
mas já tenho que me imaginar com um ser pendurado no meu seio muito 
tempo do dia e eu tendo que admitir que não vai rolar de sempre serem os 
mesmos 30 minutos até a escola dela que vão mandar no horário do meu
filho mamar. Helena não teve horário pra mamar, era livre demanda por 
escolha de estudo, comprovação científica e desejo interno, não posso querer
diferente pro Leonardo, não é justo com ele, eu preciso poder estar livre de
volantes cronometrados e rotas determinadas, eu preciso não carecer de 4 rodas 
ou duas, só dos meus próprios pés, pelo menos nos primeiros meses do meu filho.


Vai doer, eu amo minha rotina com ela, vai doer ter gente pra me ajudar 
de dia, vai doer não poder dar todos os banhos dela de todas as manhãs, vai doer
serem outras pessoas da família a pentear o cabelo pra escola, escolher o 
uniforme mais adequado para o dia... vai doer não fazer a lancheira sempre,
vai doer e eu to morrendo de medo... mas tenho dias pela frente que vão me
auxiliar a mentalizar o melhor pra ela, o melhor pra ela é a minha vontade de 
que ela esteja amparada, cuidada e amada por mim SEMPRE que der e por 
vários outros sempre que der também. Quanto mais amor pros meus, melhor.
Control Freak Nina, eu vou te demitir em breve, só estou tentando descobrir
a melhor forma de fazer isso. Não posso te destruir de uma vez só, pois você
foi a melhor funcionária de todas na minha vida. Nesses últimos 3 anos, você
salvou todas as nossas empreitadas, segurou na mão de todo mundo da empresa.


Minha empresa não conhecia capacidades tão avançadas e uma resistência de 
mulher de ferro deste tamanho... talvez eu consiga te dar uma nova função, lá
no almocharifado... não sei se você vai suportar isso, tenho medo de te perder.
Tudo é tão lindo, tão limpinho, cheiroso, aromatizado, organizado, etiquetado
com você por perto... tudo é tão mais confortável sem ninguém de fora do ninho...


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