Pronto, tomei coragem, vou simplesmente dar meu depoimento de professora sobre o que um remédio tem feito durante as minhas aulas no decorrer de pelo menos 5 dos 8 anos que completo de sala de aula em agosto de 2011.
Minhas crianças mais produtivas, mais espertas e inteligentes na sala de aula são frequentemente diagnosticadas (primeiro na escola, depois no pedagogo, depois na psicóloga e por último no psiquiatra) como crianças que têm "Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade" (TDAH) e receitadas um remédio que se chama RITALINA e percebo ao longo desses mesmos anos mudanças drásticas na personalidade dessas brilhantes criaturas... uma criança dessa é mais rápida que eu e talvez que vc também... e fica realmente difícil dar aquela aula AVERAGE e prender a atenção desse tipo de criança esperta, que como eu disse é muito mais rápida do que eu (no raciocínio inclusive).
Se você é professor não só na profissão, mas tb na personalidade, encarar como desafio prender a atenção desse aluno vai ser talvez a sua primeira vontade. Com o remédio fica mais fácil dar aula, realmente, afinal a criança, fica muito comportada, quietinha, faz o que vc manda, praticamente um robô, ou qq coisa parecida. Já tive alunos babando em sala de aula depois de medicados, alunos produtivos e velozes que não conseguiam mais ter opinião sobre nada, alunos se tornando tristes, inativos. Chamando os pais dessas crianças na escola percebi muitas vezes que eles têm tanto respeito pela opinião do psiquiatra, a ponto de achar que se o filho está babando por causa do remédio, isso é necessário no tratamento dele, porque o médico disse que ELE TEM PROBLEMAS GRAVES.
Com muitas angústias, questionamentos e mixed feelings resolvi pesquisar a fundo a realidade dessas crianças num país que vem em primeiro lugar no consumo desse remédio, onde o boom da ritalina começou, os Estados Unidos... (segure-se Nina, não faça comentários bobos). Entrei em contato com um grupo de estudos nos EUA composto de psiquiatras, pedagogos, psicólogos, professores, e pais de alunos que me mandaram material rico e consistente - (com testes cientificamente elaborados de resultados comprovados, Sheldons!) e lá já existem crianças surdas, cegas, por consequencia do remédio num número absurdo. Isso porque o remédio não está sendo prescrito da forma correta em muitos casos, alguns profissionais estão exagerando na dose e no longo prazo de prescrição da droga... disso tenho certeza.
Conversando com uma mãe médica, tomei coragem de escrever meu depoimento, não sei o que isso vai gerar, mas me sinto melhor agora, mais coerente comigo mesma e com o que acredito. Algo precisa ser feito nessa rede que envolve o lucro dessa droga de forma tão violenta e cruel, muitas vezes não-criteriosa e sem o foco educacional.
Sou pró-aluno, sou pró-pensamento e sou pró-consciência da professora não-suficiente que sou para muitos! Começo hoje uma caminhada pessoal, tomara que alguns se juntem a mim.
Comentários
Fui pega por alguns pensamentos, um deles foi que admirei sua coragem e honestidade de assumir a posição de nos contar sobre o que tem passado e refletido com seus alunos. outro pensamento é que sinto recorrentemente ao me deparar com esses acontecimentos e fico extremamente triste. Como psicóloga, pessoa e apaixonada pela educação acho extremamente importante divulgarmos esses dados e nos engajarmos ativamente, esses dados diriam que são alarmantes. Seria interessante voce se reunir com os pais, voce já deve ter tentado isso e me pego na dúvida se deu certo... é fato que seremos "pequeninos" perto da sociedade da medicalização e do controle, mas não é possível continuar na sala de aula sem nos movimentar pra algo diferente. Diagnóstico em criança é extremamente sutil e complicado, a criança está em fase de desenvolvimento e todas essas outras coisas... Já que voce tem um pensamento diferente, não fique parada mesmo! abraços. Naiara
Um argumento mais direto contra é o de que não se dá remédio assim pra criança. Mas o que me incomoda mesmo é a normalização com armas químicas.
PS. Achei muito massa o post, e to começando a sentir uma energia massa com esse compartilhamento de idéias que a gente ta começando a fazer de forma mais consistente. Uhu!