Os rastros de Lilith




todo tilintar das unhas na taça que se ouve no ar,
todo gargarejo das garrafas que derramam Pinot Noir,
toda luz apagada e todas as horas de amor e de cama,
toda labareda de vela, toda santa em pecaminosa chama.

tudo que sai de mim ao encontro do mundo.

toda folha seca recém-molhada de chuva,
todas as patas sujas dos cachorros da rua,
todo farfalhar das árvores da São Bento,
tudo o que é paz e tudo que é tormento.

tudo o que sai de mim encontra o mundo.

todo o planeta com suas almas sujas e algumas benfeituras.
toda a música noturna e o pouco ar dos meus pulmões...
todo amor nascido em mim, do último ao primeiro.
toda as camas suadas e as leituras de Camões.

o mundo sai de mim e encontra o todo.

toda a gritaria das crianças que têm medo do escuro,
toda pomba branca de igreja fria, que a fé alimenta,
todas as freadas dos carros no asfalto cinza e duro,..
todo o brilho da lua e a força da água violenta.

eu sou de mim, eu sou do mundo, eu sou da noite.

(25/09/2011)

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