in loco


Como se eu pertencesse àquele chão que piso, desço as escadas,
observando os jardins, as aves camufladas que ali estão sempre
a namorar por entre os arbustos, as mesmas sementes vermelhas
que caem de tão alto, e que de quando em quando fazem as vezes
de comidinha no imaginário daquelas mais de 500 crianças, que
são todas também minhas. Eu passo por elas, e elas me olham,
eu não as olho, mas sei que elas sabem que eu estou ali, descendo,
sorrio, olhando os degraus, passo por J e C, minhas flores vespertinas,
que cuidam do meu recanto, que tudo arejam e perfumam... beijo-as.
J faz qualquer comentário sobre algo que está acontecendo de
diferente ou de igual, eu sorrio e aperto os olhos, como sempre,
ela sabe que estou feliz de vê-la novamente, entro no rebuliço,
a sala matriz, a sala dos mestres, uma profusão de assuntos, de
muitas vozes e corpos quentes, corpos muito diferentes uns dos
outros, uns imensos, muito compridos, outros minúsculos, quase
decorativos, mas todos eles barulhentos, discutindo, falando, quase
que incapazes de manter para si mesmos todas as idéias, memórias,
pensamentos, opiniões, lembranças, são coisas demais na cabeça
de pessoas como eles, estou na porta, observando, respiro fundo,
e me encho de energia dos meus iguais, me encho de eletricidade
docente, são mais de 20 pessoas dentro de um cômodo médio,
e eles não se contêm, todos partilham, todos comentam, todos se
misturam e interferem, e auxiliam, e chega a hora, o ponteiro clica.
Cada um vira guardião da sua chave, e vai em direção ao seu cômodo, 
que é onde eles se sentem mais de casa, mais sabendo onde tudo está 
e como se faz tudo. Respiramos fundo ao mesmo tempo, sem ver 
uns aos outros, e damos início aos nossos trabalhos, à nossa mágica. 


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